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Bolsonaro insiste em mentiras sobre urnas eletrônicas

Em desvantagem nas pesquisas, ataques anti-democráticos visam desacreditar resultado das eleições e preparar condições para autogolpe (*texto atualizado para inclusão de informações 19/07/2022)

A cada dia, Bolsonaro tem aumentado os ataques contra as urnas eletrônicas, para desacreditar o sistema de votação brasileiro. Sem apresentar nenhuma prova, o presidente de ultradireita insiste em divulgar mentiras e teorias conspiratórias, além de ameaçar que não irá reconhecer o resultado eleitoral caso não seja o vencedor. De forma preocupante, as declarações adquirem cada vez mais um tom ofensivo.

Nesta segunda-feira (18), o Palácio do Planalto convocou embaixadores estrangeiros para atacar o processo eleitoral do próprio país e repetir fake news de que teria havido fraude nas eleições de 2014 e 2018, como fez em uma live realizada em julho do ano passado. O YouTube derrubou essa live nesta segunda-feira e analisa se também iria tirar do ar a transmissão desta segunda.

Diante de embaixadores, Bolsonaro atacou novamente também os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e Alexandre de Moraes, que assumirá o comando da Corte Eleitoral em 16 de agosto.

Em sua ofensiva, o presidente de ultradireita tem contado com apoio de militares que são membros do alto escalão do governo e também de setores das Forças Armadas que têm feito pressão sobre o TSE.

Votação paralela

Na semana passada, no dia 14, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, em audiência convocada pelo senador da base governista Eduardo Girão (Podemos – CE), repetiu as mesmas teorias conspiratórias de Bolsonaro e chegou a apresentar uma proposta absurda.

Nogueira propôs que, em outubro, haja uma “votação paralela” com cédula de papel para teste no dia da eleição. Pela proposta, os militares sugerem que seja instalada uma segunda urna para efeito de teste e também uma votação em cédula de papel para supostamente verificar se o que o equipamento eletrônico registrou é o mesmo que foi marcado fisicamente. Essa votação em cédula seria feita por servidores da Justiça eleitoral ou mesmo por eleitores convidados no dia da eleição.

Atualmente, testes de integridade já são feitos no dia da eleição, com urnas selecionadas entre as 577 mil urnas disponíveis para a eleição geral. Elas são separadas e levadas aos Tribunais Regionais Eleitorais para simular votações com servidores da Justiça Eleitoral. Os funcionários votam em cédulas (votação paralela) de papel e depois numa urna eletrônica, com tudo gravado por câmeras, e os resultados são checados, entre cédula e o boletim de urna.

A proposta do ministro de Bolsonaro é fazer isso em todo o país. Seria uma proposta cômica, se não fosse trágica. O ministro alega que a medida garantiria mais confiabilidade ao resultado. O que não é verdade, obviamente. O bolsonarista só omitiu o fato de que um simples erro na tal urna de teste e na cédula de papel resultaria no caos completo.

Caos que interessa a Bolsonaro em seus planos de desacreditar o processo eleitoral, cujas pesquisas até o momento mostram ele em significativa desvantagem.

A pressão das Forças Armadas também falam em um plano de fiscalização paralela nas eleições deste ano, inclusive com uma contagem de votos à margem da oficial, bem como o PL, partido de Bolsonaro, já falou em uma auditoria privada.

Confiabilidade das urnas

Nunca foi registrado fraude nas urnas desde seu uso iniciado em 1996. Uma auditoria do Tribunal de Contas de União (TCU) sobre mecanismos do TSE para proteger as eleições de “processos críticos”, como incidentes graves, falhas e desastres no sistema de votações, concluiu que até o momento não existem “riscos relevantes”, no âmbito da Justiça Eleitoral, à realização do pleito marcado para outubro. A constatação é resultado de uma terceira rodada da auditoria realizada pelo TCU.

Na live realizada em julho de 2021, Bolsonaro apresentou um suposto “especialista em dados”, que não tinha qualquer formação na área, que apontou o que chamou de “indícios” de fraude na totalização dos votos. Nenhuma prova ou indício concreto foi apresentado, apenas a reprodução de fake news disseminadas nas redes sociais. Na própria live, Bolsonaro admitiu que não havia provas.

Rechaçar os planos de golpe e organizar autodefesa

As fake news de Bolsonaro e militares contra o processo eleitoral brasileiro se somam ao cenário de aumento da violência política no país, embalado pelos discursos de ódio e autoritários da ultradireita. O assassinato do dirigente do PT Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), no último dia 9, pelo bolsonarista Jorge Guaranho, foi o ponto alto desses ataques.

Em outra live, no último dia 7, em que atacou novamente as eleições, Bolsonaro se referiu ao episódio da invasão do Capitólio, nos EUA, aos seus seguidores. “Você sabe o que está em jogo, você sabe como deve se preparar. Não para um novo capitólio, ninguém quer invadir nada. Nós sabemos o que temos que fazer antes das eleições”, disse aos seus seguidores.

Partidos de oposição acionaram o STF (Supremo Tribunal Federal) para que o presidente seja investigado sob suspeita de crime contra as instituições democráticas. Na solicitação, os partidos afirmam que o mandatário não pode “usar do cargo de Presidente da República para subverter e atacar a ordem democrática, buscando criar verdadeiro caos no país e desestabilizar as instituições públicas”. Para vários juristas, Bolsonaro cometeu crime passível de cassação e impeachment. Contudo, é improvável que essas ações prosperem, principalmente, com um Congresso dominado pelo Centrão.

Para a CSP-Conlutas, conforme resolução de sua Coordenação Nacional, aprovada na última reunião realizada em maio, as eleições estão sendo permanentemente ameaçadas por Bolsonaro, que vem fazendo dois movimentos.

“Por um lado, tem política para ganhar votos com liberação de medidas econômicas, usando a máquina do governo para ver se consegue aumentar sua popularidade. Por outro, desenvolve uma campanha de que as urnas eletrônicas e a apuração das eleições não são confiáveis, criando um caldo de confusão que permita questionar o resultado eleitoral e ações autoritárias e golpistas, caso ele perca a votação”, afirma a resolução.

Segundo a Central, diante do espaço ocupado pela ultradireita e do crescente armamento do bolsonarismo, que avança na sua organização, e que certamente se prepara para ações de caráter fascista, principalmente após a provável derrota de Bolsonaro nas eleições, é tarefa dos trabalhadores e de suas entidades rechaçarem qualquer intento golpista, bem como debater e organizar sua autodefesa.

 

Foto: Tribunal Superior Eleitoral

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