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BOLSONARO SERÁ PUNIDO SE NÃO DER UMA RESPOSTA À CRISE, AVALIA CIENTISTA POLÍTICO

Atendendo a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou na segunda-feira 27 a abertura de um inquérito na Polícia Federal para investigar as denúncias do ex-ministro Sérgio Moro contra o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, quando de sua demissão, em 24 de abril.

O cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Maurício Santoro, analisa as reviravoltas do contexto brasileiro, em meio ao aumento das mortes causadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil.

A imprensa francesa deu grande destaque nesta terça-feira (28) à abertura do inquérito na Polícia Federal para investigar as denúncias do ex-ministro Sérgio Moro contra o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Para o cientista político Maurício Santoro, trata-se de um passo importante, marca um momento de muita crise dentro do governo Bolsonaro.”

“A saída do agora ex-ministro Sérgio Moro foi talvez o principal revés para o governo, após um ano e meio de governo. Moro é hoje o político mais popular do Brasil e o único que tem o apoio da maioria da população. Ele simboliza, para muitas pessoas, a Lava-Jato, a luta contra a corrupção, e essa foi uma das correntes mais expressivas na vitória do Bolsonaro em 2018”, avalia o professor e pesquisador.

“A saída de Moro do governo e a ruptura de parte dessa aliança da Lava-Jato com o Bolsonaro vai ter consequências políticas eleitorais graves. Estamos ainda muito no início desse processo, mas do ponto de vista jurídico, a consequência principal foram as denúncias que geraram esse inquérito no STF. Já existem vários pedidos de impeachment que foram enviados para a Câmara dos Deputados, mas nenhum ainda em andamento”, diz o especialista.

“O que temos agora é um cenário diferente, esse inquérito vai para a Polícia Federal para investigação. Se a Procuradoria-Geral da República considerar que existe crime de responsabilidade, isso voltará ao Supremo, que, se aceitar a denúncia, a envia à Câmara dos Deputados, e então teríamos a abertura de um processo criminal contra o presidente”, explica Santoro. “É um caminho muito longo, tortuoso, mas é jurídica e politicamente relevante”, completa o cientista político.

UM “ESTRAGO” NA BASE BOLSONARISTA?

Santoro acredita que entre todos os ministros que deixaram o governo, “Moro é o que tem o potencial de provocar o maior estrago dentro da base eleitoral bolsonarista, por ser a personificação, para muitos brasileiros, da luta contra a corrupção”. “Ele saiu fazendo acusações criminais muito graves ao presidente, não eram simplesmente críticas. E com uma capacidade de mobilização da opinião pública, e da imprensa brasileira e internacional que nenhum outro ministro do governo tem”, avalia.

“A primeira pesquisa de opinião feita após a saída do Moro pelo Datafolha tenha mostrado o presidente mantendo a sua base de apoio pessoal, em torno de 1/3 do eleitorado, mas a novidade é que subiu muito o apoio à renúncia de Bolsonaro, que agora está em torno de 46%, subiu 11 pontos”, explica Santoro. “A gente tem quase metade da população querendo que o presidente saia, ou que seja conduzido para fora do governo. A diferença é que um processo de impeachment demora muitos meses e a renúncia tem efeito imediato. Acho que não é por acaso que o movimento pela renúncia [de Bolsonaro] tem crescido tanto, já que hoje, para a maioria dos brasileiros, o presidente tem falhado de maneira sistemática e assustadora no combate à pandemia”, afirma.

“Se olharmos presidentes de outras democracias, provavelmente só o Donald Trump, nos Estados Unidos, e o Obrador, no México, tiveram comportamentos tão negligentes [quanto Bolsonaro] em relação ao coronavírus”, diz Santoro. “Em outros governos, como a Alemanha ou a Argentina, a reposta foi tão efetiva que a popularidade dos governantes aumentou. No Brasil, a crise política vem sendo agravada pela pandemia e a eclosão do vírus tem servido para  mostrar o tamanho do fosso político brasileiro e das nossas divisões, além de ser mais uma expressão dos nossos fracassos coletivos”, acredita o professor.

Santoro sublinha a situação agravada do Brasil neste contexto. “Estamos caminhando para o que deve ser a maior crise de saúde pública desde a gripe espanhola, acompanhada, dessa vez, por uma restrição econômica. É uma tempestade que teria um impacto gigantesco em qualquer governo, mesmo que fosse menos divisivo do que é o do presidente Jair Bolsonaro”, afirma.

RENÚNCIA?

Para realmente ocorrer renúncia, ele acredita que deveria haver uma mudança na “atual conjuntura política” brasileira. “Por exemplo, uma renúncia do ministro da economia [Paulo Guedes], que é uma pessoa importantíssima dentro do governo, atualmente é o ministro que tem mais prestígio, depois da saída do Moro. E também uma transformação dos militares, que até agora têm sido um esteio do presidente, mesmo diante do agravamento da situação sanitária no Brasil”, analisa.

“Mas mesmo que não haja essa renúncia, mesmo que não ocorra uma mudança nesse cenário político, temos duas crises muito graves se encaminhando no Brasil. Uma delas é o colapso da saúde publica com a pandemia, com imagens muito duras de pessoas morrendo nas próximas semanas. Imagens que já vimos em outros países. O impacto social e psicológico disso vai ser enorme. Depois, temos a recessão, que também se encaminha para cá. No Brasil, deverá ser uma crise pior do que a da Grande Recessão, a mais séria da história econômica moderna. Não é que as pessoas vão responsabilizar o presidente por causa da crise, mas elas vão exigir do governo federal uma resposta e, se ela não vier na velocidade e na profundidade adequada, vai haver uma punição política e eleitoral dos cidadãos ao presidente”, diz Santoro.

Fonte: NCST NACIONAL

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